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Desacreditados

25 de março de 2010

(Idéia “cedida” pelo Pedro)

A primeira coisa em não fazer engenharia, medicina ou direito, é explicar para os seus pais.
-Mãe, vou fazer curso superior em artes cênicas.
-Precisa de curso superior para isso? Você faz cursinho de teatro, e olha que é caro, por mais de seis anos.
-Mas mãe, eu não quero fazer parte do grupo e só.
-Filho, é sério, eu gastei muito com esse curso, e também indo ver suas peças. E, honestamente, eu nunca entendi suas piadas.
Quando os pais aceitam, vem a história com os amigos. Muitos deles pensam que fazer isso é uma coisa sem volta, você vai depender do dinheiro alheio (que também é deles) para sempre.
-Bi-bli-o-te-co-no-mia? Mas o que é isso? Você vai passar a vida falando onde estão os livros na faculdade?
-Não, não é isso que faz.
-Olha, eu sou teu amigo, gosto muito de você, mas você precisa acreditar no teu potencial. Você pode fazer mais do que tirar pó de estante.
-É, eu sei. E o que você vai fazer?
-Administração. Vou ganhar meu primeiro milhão antes dos 40.
-Ok.
Quando você entra na faculdade, ouve de tudo.
“E o que isso faz?”
“Você vai trabalhar fazendo o que?”
“Precisa de curso superior pra isso?” – Nunca, jamais, diga isso para alguém. É como falar “que merda inútil é essa? Meu cachorro consegue fazer isso”.
Depois de quatro anos suportando isso, você se forma, consegue um trabalho, ou não (eu tenho esperanças!), e a idéia do que você faz não muda!
-Nossa, adorei a nova embalagem.
-É, aprendi isso na faculdade, misturar design retrô, mas repaginar.
-Sério? Você fezs faculdade para isso?
-Claro!
-Mas a empresa exigiu? Ou você fez faculdade só para ter cela especial na prisão?
Bom, amados internacionalistas, jornalistas (rebaixados por ora), Técnicos ambientais, enfermeiros, cineastas, Relações Públicas, geógrafos, designers, e quem mais se identificar: a notícia boa é que o mercado gosta da gente. Não tanto quanto gosta de médicos, mas enfim… A má é que o povão não se importa com a gente, e mesmo com o diploma de doutorado em mãos, nunca seremos chamados de doutores.

Ser ruim

17 de março de 2010

Existem duas coisas que eu sou especialmente ruim: jogar qualquer coisa que envolva estratégia e fazer contas. Das coisas que eu não faço bem, essas duas merecem atenção.

Eu não consigo correr, era sempre a última a ser escolhida na Educação Física e não consigo lembrar do rosto de ninguém, a menos que seja um amigo ou tenha feito alguma coisa muito idiota perto de mim. Afinal, idiotas são sempre memoráveis. Mas, voltando ao assunto, fazer contas e ir bem em jogos é uma coisa que as pessoas têm certeza que eu faço.

Acho que por ser internacionalista, e ninguém saber o que é isso, as pessoas achem que parte do meu trabalho envolve jogar War ou desenvolver estratégias para xadrez. Todo mundo que me convida para esses jogos vai tremendo de medo. Bom, depois de umas três rodadas de péssimas jogadas ninguém mais tem tanto medo assim. No War, na verdade, eu sou sempre a primeira a sair.

Em pôquer, não sei por que cargas d’água, as pessoas também esperam que eu vá bem. Um grande problema: eu sou péssima em blefar, e não entendo um blefe. Acho que eu sou meio jacu ingênua, nunca penso que um amigo meu vai me enganar. Ainda bem que eu nunca jogo a dinheiro.

Sobre as contas, eu admito: sou uma nerd. Mas fazer contas é tão desnecessário com as tecnologias de celulares com calculadora e excel. Quero agradecer ao excel: sem ele, não haveria cálculo nenhum durante a minha formatura. Mas quando alguém me pergunta coisas como quantos dias faltam para meu aniversário, quanto tempo para o bolo ficar pronto,quanto cada um tem que dar na conta, é um desespero. Eu acho que meus amigos já devem ter me levado mais de 100 reais, afinal, eles falam números e eu confio plenamente neles.

Se meus amigos jogam xadrez comigo, vêem que eu não sou muito esperta, me chamam para um pôquer e percebem que eu não percebo mentiras, então eles já devem ter me roubado muito mais. Acho que preciso conhecer novas pessoas. Se, ao menos, eu lembrasse do rosto delas…

Já é copa?

8 de março de 2010

Eu nunca fui muito fã de futebol. Nem de Copa do Mundo. Cresci com meu pai falando de como a seleção de 70 foi usada pelo governo, dos salários absurdos, do que acontece na política enquanto temos jogos, e etc. Sim, meu pai é um doce de pessoa.

Tirando isso, fiz uma retrospectiva das copas para entender melhor esse meu bloqueio. Em 94 a professora do pré pintou os rostos dos alunos com duas faixas, uma verde e outra amarela (duh), para um dos jogos. A tinta me deu alergia e era absurdamente difícil de tirar. Tirando isso, no dia da final da copa acordei com o foguetório, sozinha em casa, por causa da comemoração. E sim, meu pai é um traidor.

Em 98, já mais influenciável, comecei a torcer sozinha em cima do meu beliche. Resultado: numa comemoração de gol, caí de cabeça no chão. Não fui para o hospital, porque aparentemente, não tinha acontecido nada. E sim, meu pai é um sacana folgado.

A copa de 2002 não conta. Acordar de madrugada pra ver jogo era a última coisa que eu queria fazer. Algumas vezes eu acordei com o barulho dos fogos, mas voltei a dormir.

Eu fico imaginando quem sai de casa, compra fogos de artifício e fica esperando o momento exato da seleção fazer gol para disparar. Essa pessoa não vê o jogo? Fica agachado ao lado do pavio, esperando ouvir o Galvão gritar pra riscar o fósforo? E às 5 da manhã? Faça-me um favor.

2006 eu passei essa parte entre provas de faculdade e viagem de férias em lugares que as pessoas realmente se importavam com isso. Cada um que levantava pra xingar a seleção me fazia querer chorar de rir. Não por ser fisicamente impossível de ouvir, não que seja só um jogo (eu não me atrevo a falar isso), mas as pessoas que têm essa reação costumam ser calmas em outros momentos. Até os 20 minutos do primeiro tempo, são legais, queridas, engraçadas, depois é como se voltassem ao estado de natureza e quisessem matar toda a população do país adversário. É como se todas as pessoas do Brasil virassem meu pai.

Esse ano, vai ser diferente. Vou acompanhar, meio forçada, a nossa seleção pelo twitter, eu já fui proibida de falar durante os jogos desde a copa passada, então ficarei trocando mensagens pela internet. Talvez eu tente atravessar São Paulo durante o horário do jogo. Tenho certeza que atravesso tudo aquilo lá em um tempo só.

Semáforos

2 de março de 2010

Os semáforos de qualquer cidade são um pouco de tudo: um palco meia boca, um lava rápido, uma loja de conveniência. Mas a quantidade de coisas oferecidas por aqui tem aumentado demais.
Não sei como é nas outras grandes cidades, mas aqui em Curitiba a estratégia das imobiliárias para conseguir vender é simples: todo semáforo que você para tem alguém distribuindo panfletos de algum super-lançamento revolucionário.
O que me deixa assustada é que por dois, três meses, eu só recebo panfletos de um imóvel, em todos os sinaleiros que eu paro. A cidade não tem crescido muito, pelo jeito. Mas isso é como se te forçassem a ter o tal apartamento: não quer receber nossos flyers? Então compre!

Eu acredito que eu, sozinha, já peguei mil folhetos de apartamentos em Curitiba. Alguma vez imaginei comprar algum? Já indiquei esses lugares para alguém? Tudo o que fiz com eles foi dar para algum catador de papel, que devem estar ricos com a quantidade desses anúncios, vendidos a quilo.
Uma coisa incrível e, eu espero, exclusiva de Curitiba é a venda de jornais no sinal. Ok, isso acontece em todo lugar. Mas só aqui se vende o jornal de domingo no sábado. Os editores da gazeta do povo devem ter um conjunto de videntes, médiuns e pais de santo para antecipar as notícias. O jornal de sábado sai às 7 da manhã, e o de domingo ao meio dia.
E sim, o jornal de domingo é o mais caro de toda a semana. Simplesmente pagamos mais para ler notícias velhas. Reis do marketing.
Na esquina da casa do meu namorado, dependendo do dia, tem um trompetista tocando. Nós ouvimos o som dele do sétimo andar. Nossa, que legal, né? Seria, se o pseudo-músico soubesse mais de 30 segundos de alguma música, ou se ele tocasse pelo menos cinco músicas diferentes durante o dia. Ouvimos o mesmo riff várias vezes, mas isso não importa: quem está no carro ouve e paga pra isso. O que me faz pensar: essas pessoas não têm som no carro? Ou fazem de conta que ouviram alguma coisa? Porque, honestamente, eu não pagaria nada para um cara tocar jazz super alto do meu lado, a menos que ele ameaçasse a minha integridade física com o trompete.

De qualquer forma, eu sigo pegando panfletos, comprando jornais no dia errado e ouvindo (forçadamente) o trompete. Afinal, antes eles do que os assaltantes que temos, em todas as cidades grandes do Brasil. Falando nisso, acho que vou ligar para a Gazeta do Povo, pedindo que permitam que as imobiliárias coloquem os folhetos no meio dos cadernos dos jornais, e colocar os quase músicos para vendê-los.

Cigarros Imaginários

23 de fevereiro de 2010

Nada contra os fumantes, mas eu não gosto de cigarro. Eu tenho rinite, alergia na pele, além de ser totalmente sedentária. Mas alguns momentos da vida, eu penso que deveria ser fumante.

Essa idéia começou na faculdade. Entre uma aula e outra, os alunos desciam da sala e iam fumar. Como eu e meus amigos não fumávamos, nós descíamos as escadas e ficávamos na frente do bloco, olhando para o chão e para o céu, quando o assunto faltava.

Vamos analisar esse momento se nós fumássemos: a gente desce do bloco e fica fumando enquanto olha para o nada, vê o tempo que falta para a próxima aula. O cigarro significa fazer alguma coisa.

No estágio que eu fiz, os fumantes tinham 15 minutos de folga à tarde para acenderem suas varetinhas. É como uma recompensa por fumar, já que eu continuava trabalhando enquanto eles aliviavam suas tensões.

Essa situação se tornou ainda pior quando eu mudei de casa. Meu quarto fica de frente para a rua, e quando eu fico parada, olhando o movimento, sempre alguém me pergunta o que eu tenho. Com um cigarro, eu estaria simplesmente fumando, sem levantar dúvidas (talvez levantasse algumas queixas).

Deve ser por isso que é tão difícil parar de fumar. Não é o hábito, nem a dependência. Mas eu acho que os fumantes devem apreciar mais as coisas da vida. Também deveriam,  afinal a expectativa de vida deles é bem mais curta.

a dieta (2)

21 de fevereiro de 2010

Com o tempo, você se acostuma a fazer as contas de calorias (ou não faz mais), aprende a tomar água em vez de café, e TENTA comer só um bombom na TPM, quando seu monstrinho interior está enfurecido.

É nessa hora que você começa a esperar por resultados: sai com as amigas esperando que alguém repare em como você está magra, espera todos os dias pelo dia de pesar, afinal a nova você ouviu dizer que é melhor para manter noção de seu peso.

Isso leva a um problema: ninguém tem balança em casa. Não conheço ninguém que se pese no banheiro. Todas nós temos que ir à farmácia nos pesar.

Fazer isso não parece muito difícil. O problema é que as balanças ficam numa parede distante das farmácias, normalmente ao lado dos chás, porque marketing é tudo nas nossas vidas.

O problema é que nas farmácias vêm cinco atendentes alvoroçados em cima de você, perguntado se você já foi atendida (pergunta que eu nunca entendi: atendida pelos céus?). Não se pode simplesmente falar “só vim me pesar”, pois essa é a maior vergonha do mundo. Eu sempre respondo que “só estou dando uma olhadinha” e vou caminhando de prateleira em prateleira, até subir na balança.

As atendentes, sabendo da minha jogada,  esperam eu subir na balança para chegar ao meu lado e perguntar se achamos o que procurávamos. Eu sinto que essas sacanas só querem ver nosso peso e depois comentar “sabe aquela loirinha? Não emagreceu nada da semana passada pra cá”.

O pior da dieta é em casa: eu, pelo menos, tenho uma mãe que acha que eu preciso muito emagrecer, e um pai paranóico, que cada vez que ouve a palavra dieta, fala em como Karen Carpenter morreu de anorexia, numa modelo de Quixeramobim que vomitou o próprio estômago, e essas maluquices em geral.

Bom, o fato animador é queeu cheguei ao final de 2009 com todo o meu guarda roupas caindo em mim, nenhuma vez levei sibutramina para a minha linda boca, meus 4 kg a menos, uma mãe que ainda me acha “barrigudinha”, e um pai que acha que eu preciso tomar biotônico. Tudo dentro dos conformes.

a Dieta (1)

19 de fevereiro de 2010

Eu, você (se for homem, desconsidere) e todas as mulheres do mundo já entramos em dieta. Todas nós nos achamos muito gordas ou muito magras. Não adianta o que nos digam: sempre falta aqui e sobra ali.
Final de 2008 contrariando toda a minha infância magrela e minha adolescência de bambu, eu tomei o caminho que 98% das mulheres tomam: comecei a engordar (se você faz parte dos 2%, escolha um palavrão; é disso que eu vou te chamar).
Então, na minha lista de metas para 2009 eu resolvi emagrecer os 5 kg ganhos naquele final de ano. Sim, eu, você e todas as mulheres fazemos essas listas, por mais ridículas que sejam: ir para a academia, comprar uma agenda, consultar um nutricionista. Todas nós temos esse hábito de fazer e, na maioria das vezes, falhar com as nossas metas.
Eu não comprei nenhuma Nova, Dieta já, ou pensei na fome no Sudão (ok, pensei só um pouquinho na fome do Sudão – e que as companheiras de blog não comentem sobre isso) para emagrecer.
Passei a contar calorias, comer a cada três horas e reduzir besteiras (chocolates, frituras e afins). Contar calorias é uma maluquice, afinal de contas, não há consenso sobre isso: há quem diga que uma maçã tem 60, 40 e zero calorias. Um café pode ter 60, 50, 130 ou 3. Peguei umas três tabelas da internet, copiei e colei, e ficava calculando o que tinha comido. Além disso, tinha coisas como “uma xícara de pipoca”. Defina uma xícara de pipoca: é uma xícara de pipoca já estourada, ou é uma xícara de milho de pipoca?
Ficar sem comer por 3 horas parece fácil, não é? Pois é uma merda. Sempre que dava duas horas da última refeição, eu já morria de fome. O que eu passei a fazer? A tomar café preto com adoçante – atitude muito inteligente para quem estava de estômago vazio.
Reduzir comidas desnecessárias não é muito difícil. Mas eu, você e todo mundo passa pela amada TPM. A TPM nada mais é do que o nosso Mister Hyde interior saindo e destuindo tudo o que encontra pela frente: pessoas, aparelhos eletrônicos, comida. Ah, os chocolates funcionam como o fim da poção, a hora em que o Dr. Jekyll acorda, com a sua cara de lord, sentando à mesa. Resumindo: não existem grandes possibilidades de uma dieta ser mantida nesse período.

(continua)

O efeito borboleta

8 de fevereiro de 2010

Eu juro que eu não queria. Não estava com a menor vontade de voltar a escrever sobre cotidiano, falar sobre minhas experiências de vida (tanto que nem terapia eu faço). No máximo um twitter para relaxar. Mas não deu.
Desde o começo do ano, eu tenho sido “borboleteada” por idéias de textos sobre Relações Internacionais (não se preocupem, não são textos científicos), textos sobre inutilidades colocadas à minha frente, e eu não consegui resistir.
Obviamente, pensei em levar minhas amigas para o buraco comigo. Afinal, amiga de verdade a gente chama, faz bico, ameaça chorar se elas não embarcarem conosco (claro que eu não faço essas coisas).
Meus lindos olhos conseguiram atrair três cúmplices, até o momento: Chris, Pri e Cindy (não, o nome dela não vem porque a mãe cantava girls just wanna have fun o dia inteiro). Vamos tentar atualizar, escrever coisas que a gente julgue interessante, e tentar nos manter com vontade de escrever.
Ah, se eu tivesse escolha, ficaria só com meus milhares de livros para o mestrado.