Nesse momento eu estou muito brava. O Brasil acabou de ganhar da Costa do Marfim, num jogo até bom, uma coisa atípica para esta copa. O problema é que, na última semana, eu não durmo, não trabalho, não pesquiso, não ando calma nas ruas. Eu estou com mania de perseguição de vuvuzelas.
Vuvuzela é uma coisa que eu apaguei das minhas memórias de todas as copas. Na verdade, durante todas as copas da minha vida, eu nem sabia que a cornetona se chamava vuvuzela. Eu sempre chamei de cornetona, mas não lembrava da merda que dava coom várias pessoas tocando essa bosta ao mesmo tempo. Acho que desde que eu caí de cabeça, eu pensei que nada poderia ser pior numa copa. Nem os jogos de madrugada de 2002.
A corneta do diabo é mais barata que uma camisa, que uma peruca, do que uma bandeira, o que faz com que o patriotismo repentino que vem com a copa do mundo tenha a sua expressão máxima em soprar um berrante de mentira. Com o acesso à vuvuzela mais fácil do que ao crack, as pessoas se sentem livre para usa-la em qualquer ocasião.
Eu ando na rua e tem vuvuzela. Eu estudo e tem vuvuzela. Eu vou ao banheiro e tem vuvuzela. Eu juro que ontem, indo dormir às 2 da manhã, eu deitei na cama e não conseguia pegar no sono porque tinha alguém tocando essa merda. Cacete, duas da manhã! O cara poderia estar fazendo qualquer coisa: comendo, bebendo, dormindo, dirigindo igual um retardado, transando, usando crack, mas não: queria ser a vuvuzela solitária da madrugada.
Eu moro do lado de uma loja de som. E eles comemoram o fim de cada partida tocando uma música tecno e tocando vuvuzelas. É como uma versão remix do inferno. Se eu olhar pela janela do meu quarto, tenho um ótimo motivo para querer ir para o céu. Se o inferno for uma mistura de tecno pobre + gente feia + vuvuzela, eu prefiro passar minha vida na igreja. O problema é que já ouvi gente falar que estava no culto e ouvindo essas cornetas, ou seja: Deus resolveu não voltar para a Terra, mas limpar nossos pecados nos punindo com uma coisa pior que buzinas de carro.
Eu tenho quase certeza que os que agora tocam vuvuzelas pelas ruas são os mesmos que, há um mês atrás, xingavam a escalação do Dunga. Esqueceram de como brigaram com a seleção e agora se sentem patriotas e compartilhando com a felicidade que emana da “mãe África” fazendo um barulho de peido em um tubo de plástico. Bom, logo isso acaba, e eu tenho quatro anos para bloquear isso da minha mente e torcer para tornarem isso ilegal.
Quero ver vocês comemorarem com berrante em 2014!!!