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Dois passos para o inferno

20 de junho de 2010

Nesse momento eu estou muito brava. O Brasil acabou de ganhar da Costa do Marfim, num jogo até bom, uma coisa atípica para esta copa. O problema é que, na última semana, eu não durmo, não trabalho, não pesquiso, não ando calma nas ruas. Eu estou com mania de perseguição de vuvuzelas.
Vuvuzela é uma coisa que eu apaguei das minhas memórias de todas as copas. Na verdade, durante todas as copas da minha vida, eu nem sabia que a cornetona se chamava vuvuzela. Eu sempre chamei de cornetona, mas não lembrava da merda que dava coom várias pessoas tocando essa bosta ao mesmo tempo. Acho que desde que eu caí de cabeça, eu pensei que nada poderia ser pior numa copa. Nem os jogos de madrugada de 2002.
A corneta do diabo é mais barata que uma camisa, que uma peruca, do que uma bandeira, o que faz com que o patriotismo repentino que vem com a copa do mundo tenha a sua expressão máxima em soprar um berrante de mentira. Com o acesso à vuvuzela mais fácil do que ao crack, as pessoas se sentem livre para usa-la em qualquer ocasião.
Eu ando na rua e tem vuvuzela. Eu estudo e tem vuvuzela. Eu vou ao banheiro e tem vuvuzela. Eu juro que ontem, indo dormir às 2 da manhã, eu deitei na cama e não conseguia pegar no sono porque tinha alguém tocando essa merda. Cacete, duas da manhã! O cara poderia estar fazendo qualquer coisa: comendo, bebendo, dormindo, dirigindo igual um retardado, transando, usando crack, mas não: queria ser a vuvuzela solitária da madrugada.
Eu moro do lado de uma loja de som. E eles comemoram o fim de cada partida tocando uma música tecno e tocando vuvuzelas. É como uma versão remix do inferno. Se eu olhar pela janela do meu quarto, tenho um ótimo motivo para querer ir para o céu. Se o inferno for uma mistura de tecno pobre + gente feia + vuvuzela, eu prefiro passar minha vida na igreja. O problema é que já ouvi gente falar que estava no culto e ouvindo essas cornetas, ou seja: Deus resolveu não voltar para a Terra, mas limpar nossos pecados nos punindo com uma coisa pior que buzinas de carro.
Eu tenho quase certeza que os que agora tocam vuvuzelas pelas ruas são os mesmos que, há um mês atrás, xingavam a escalação do Dunga. Esqueceram de como brigaram com a seleção e agora se sentem patriotas e compartilhando com a felicidade que emana da “mãe África” fazendo um barulho de peido em um tubo de plástico. Bom, logo isso acaba, e eu tenho quatro anos para bloquear isso da minha mente e torcer para tornarem isso ilegal.

Quero ver vocês comemorarem com berrante em 2014!!!

O pior dia de todos – 2 ou por que larguei a yoga

16 de junho de 2010

Por algum motivo, os eletricistas não acham que vale a pena ir na casa dos outros, e por isso cobram visita. Entre 50 e 100 reais só pra se deslocarem até o lugar que precisa da presença deles. Por esse preço eu quero que só de entrar em algum lugar os interruptores funcionem, as tomadas estejam na voltagem correta e o linux leia arquivos .mdb. E não vou pagar nada a parte: nem a troca de fios, fusíveis, nem a colocação de tomadas novas. Por esse preço eu quero que o Tom Cruise venha trocar a esquadria.

Eu consegui achar um tio que não ia cobrar visita, porque estava num prédio do lado do meu trabalho, segundo a esposa dele. O único detalhe era que a esposa não conseguia falar com ele, eu não conseguia falar com ele, nem a morte “herself” conseguia falar com ele. Sim, eu sei que a morte queria falar com ele, afinal ele tava mexendo com eletricidade, e desde pequena, eu ouvia minha mãe falar que choque mata.

Eu desisti e saí mais cedo sem o consentimento do meu chefe (entrei 10 minutos depois e saí 10 minutos antes, o novo conceito de rebeldia). O problema é que o Cabral-Osório só passa de 10 em 10 minutos, com um adicional de mais 10 minutos, já que deve existir apenas um ônibus para fazer essa linha em todo o mundo.

Estava eu na fila, pensando em quantos ônibus Cabral-Osório existem no mundo, e se são todos amarelinhos, um velho cai no chão do meu lado. Caiu durinho, igualzinho quando alguém desmaiava no Chapolin Colorado. “Taquepario, o velho morreu. E se fosse eu?”. Quando eu concluí esse pensamento, segurei no braço da moça atrás de mim e disse que eu ia entrar em pânico. Não entrei, para evitar a vergonha pública, e antes da ambulância chegar para o velhinho, que não estava morto, chegou DOIS Cabral-Osório. Nunca uma teoria minha desmoronou tão rapidamente. E nunca uma ambulância demorou tanto e curitibanos foram tão solícitos – não comigo, com o velhinho, que não tava morrendo de frescurites.

Já no ônibus, não se falava outras coisas que não o que aconteceu com o Seu Antônio (o velhinho disse o nome), em detalhes. Eu sentia que eu ficava mole no banco com menos apio de todos (o do corredor, onde tem o último banco duplo e o primeiro banco para egoístas). Com o trânsito dessa cidade não colaborando, liguei para a minha mãe me pegar no meio do caminho e me levar para a yoga. A conversa foi mais ou menos essa:

-Alô?

-Mãe?

-Alô?

-Oi, mãe!

-Oi!

-Mãe, você pode…

-Oi filha!

-Oi mãe… mãe, será que v…

-Oi filha!

-Mãe, escuta!

Nesse momento estava todo mundo me ouvindo gritar no telefone com a minha mãe. Consegui pedir, e finalmente, ela ia me encontrar no terminal Cabral, o único que se comunica com todos os bairros de Curitiba, e por isso, o com mais gente.

Esperando na frente do terminal, fui ligar para os meus pais e para um motoqueiro na minha frente. “Pronto, acabou de ferrar o meu dia, vai me assaltar”. Por mais bizarro que possa parecer, Krishna se compadeceu da minha situação (poxa, tudo isso por uma aula de yoga). O cara queria uma informação (sério, foi um milagre. Alguém no mundo já deu informação para um motoboy?). Uma informação que eu não lembrava como dar. Eu rtenho um GPS que é meu guia espiritual, eu não sei chegar até a padaria sem ele. E o tio queria uma coisa obvia. Falei o básico e pedi para ele voltar a perguntar depois do que eu lembrava.

Meus pais chegaram, trânsito, trânsito, trânsito, pus roupa em 10 segundos e fui para a yoga. Depois da aula, a professora deu um papel para cada aluno, cada um com um princípio do yoga para estudar. O meu era conservação de energia. Ela disse “talvez você tivesse chego aqui no mesmo horário, sem precisar se desgastar tanto assim”. Nesse momento, milhões de palavrões ecoaram na minha cabeça. A Dercy Gonçalves deve ter soprado alguma coisa, porque eu pensei em palavrões que eu nem conhecia.

Para melhorar meu dia, minha professora ainda falou que eu estava errada quanto ao pagamento, e teria que pagar as aulas que eu fiz no mês, mesmo se não fosse mais fazer yoga. Não paguei e não vou mais fazer aquilo lá. Putz, a yoga foi a cobertura e a cereja do bolo do pior dia de todos.

Tudo o que eu conseguia pensar é que meu dia foi praticamente igual a esse:

(detalhe para os 2:20 do vídeo)

O pior dia de todos – parte 1

10 de junho de 2010

Recado ao leitor: Não venha com “nem foi um dia tão ruim”.

Eu acordei como sempre acordo: atrasada. Existem duas formas de se acordar: as 6:30 da manhã, com tempo para fazer tudo como deve ser feito, mas na verdade só levantar às 7, ou as 7, atrasada, sem enrolar. Eu prefiro mais meia hora de sono tranqüilo e comer correndo.

Quando eu cheguei na cozinha da minha casa, notei que não tinha nem pão, nem torrada, nem bolacha água e sal, nada que eu pudesse colocar o queijo artesanal no meio, na minha casa. Saí com fome pra comer do lado do trabalho. Como eu já acordei atrasada, cheguei atrasada no emprego. Lá eu tento, pela milésima vez, instalar alguma coisa que leia arquivos .mdb na merda do linux.

Linux, sistema operacional que, apesar de ser chamado de comunista, não foi feito para ser usado por proletários. E não, não é falta de vontade de aprender de quem ficou a vida toda lidando com Windows, é clicar para instalar um pacote e nada acontecer. Ler milhões de tutorias na internet e nenhum ensinar como descarrega o arquivo quando algum erro misterioso aconteceu.

Ok, quando eu finalmente eu e a outra menina que trabalha comigo saímos pra almoçar, e eu sugeri um buffet barato, mas sem muitas opções de carne, a gente estava feliz, porque todos sabem como é bom sobrar dinheiro de vale refeição. A comida tava fria, o kibe tava azedo, a mesa bambeava e um cara com a mão tatuada olhava pra gente com cara de raiva. E, convenhamos, uma das últimas pessoas que eu quero arranjar encrenca é um cara com a mão tatuada. Depois dele, só não me meto com o travesti do Profissão Repórter, um careca com suástica no braço e com o cara que cortou o braço do outro em Japira.

Depois de tratar com pessoas rudes no telefone (ajudem os trainees, os deixem ir às empresas), fui pedir para meu chefe para sair mais cedo, para ir para a aula de yoga, coisa que ninguém precisava mais do que eu, e o vejo saindo. Nisso já era quase a hora do ônibus passar. Como ele não deu Ok em algumas planilhas minhas, eu não tinha o que fazer no trabalho, a não ser tentar ligar para o eletricista, que eu contatei as 10 da manhã e ainda não tinha dado notícias.

Achou o dia ruim? Espera, que isso é só metade do pior dia de todos.

Viajar de carro

31 de maio de 2010

Eu adoro viajar de carro. Acho que eu fui forçada a gostar, afinal desde criança eu virava dias passando a estrada, sempre de carro e sempre com os meus pais.

O grande problema nisso é meu pai (ainda bem que Freud não lê meu blog), que acha que quem o ultrapassar vai falar dele no bar com os amigos. Imagine a cena: você está tomando uma cerveja com seus amigos, eis que algum toma um gole, olha para o próprio copo, dá umas balançadas na bebida e diz “sabe, esses dias, na estrada, eu ultrapassei um cara”, e todos respondem “nossa, o cara que você ultrapassou é um trouxa”. É isso que passa pela cabeça do meu pai. Por isso, andar de carro com ele é arriscar a vida.

Como eu sou a única filha, sempre tive todo o banco traseiro pra mim, por isso nunca tive problemas em me acomodar.  Agora, que eu viajo com meu namorado, fica mais complicado. Um se mexe um pouco, o outro também, e eu não consigo dormir. Não só porque quando meu pai faz uma curva a gente parece um monte de laranjas soltas dentro do carro, mas eu não consigo dormir sentada. Nem com os tangos que meu pai ouve, nem na aula de Economia Brasileira (até hoje, não sei como consegui essa proeza). Acho que eu seria uma ótima motorista para a estrada. Além de toda a sensualidade em ser caminhoneira.

Quando eu era pequena, sempre ia junto dos meus pais para o Paraguai. Uma vez meus pais compraram um cachorro de pelúcia lindinho, parecia de verdade, e quando dava tapas nas costas dele, ele começava a chorar. Fui de Foz até cascavel batendo no cachorro. Ou seja, 144 km torturando um animal de Taiwan. Meus pais colocaram o bichinho no porta-malas, onde ele ficou chorando cada vez que se passava  num buraco por mais 100 km, quando tiraram a vida as pilhas dele.

Mas se tem uma coisa boa na estrada é a comida. Todos os restaurantes têm buffets lindos, carnes perfeitas, doces maravilhosos, chocolates artesanais, tudo para garantir que você fique enjoado por uns 300 km. Ou para forçar você a usar os banheiros deles. Se você é mulher, sabe como dá nojinho ir em banheiro público, sem tampa, sem trava nas portas em alguns lugares e cheio de pessoas que querem falar por que estão viajando. Se você é homem, além de não estar nem aí, mija em qualquer lugar, que eu sei.

Mas, mesmo assim, é mais legal viajar assim do que de quase qualquer outra forma (tirando de avião, que é legal desde falar para os amigos, até chegar). Você para onde quer, conhece todo o tipo de lugar, se perde, xinga os outros sem motivo (ok, só meu pai) e curte a paisagem. O enjôo passa, os caminhões ficam pra trás, os outros carros… Bom, esses ficam lá atrás mesmo, pra não tirarem sarro de ninguém.

Biarticulados

19 de maio de 2010

Quem não mora em Curitiba adora os biarticulados. Todos que vem pra cá tiram fotos nos tubos, pagam passagem pra andar só de uma estação para a outra, por que é um máximo. Três ônibus em um, que para num tubo, não num ponto, atravessando a cidade. Mas os biarticulados são uma merda.

Pra começo de conversa, curitibano não é uma pessoa boa que cede lugar no ônibus. O curitibano médio não pensa em ninguém que não seja ele próprio. Nem na própria mãe. Na verdade, curitibanos não têm mães, por que se tivessem, iam saber falar “por favor”, “obrigado”. O único motivo que leva uma pessoa a dar lugar no ônibus é a voz que fica, a cada dois minutos, falando “ofereça seu lugar”. Parece inocente, mas ouvir isso 40 vezes por dia por 20 anos realmente faz você achar que se não oferecer teu lugar, o Requião vai aparecer e te mandar para aquele lugar.

Resolveram, tem poucos anos, colocar música clássica entre um aviso e outro do ônibus, o que significa que em uma viagem de 15 minutos, você vai ouvir 45s de música. O problema é que tem muita gente que não gosta disso e não tem fone no celular, então deixa o celular tocando no último volume a última moda em anti-cultura. Rebolation é passado, nos ônibus daqui, se ouve isso:

http://www.youtube.com/watch?v=e8RwGJZnEK0&feature=related

Uma coisa que eu não entendo é que quase todas as estações têm nome de ruas (logo, nome de pessoas desconhecidas). Mas uma estação tem nome de “Catedral da Fé”, por que fica na frente de uma igreja Universal gigante. O nome é muito estranho. Todas as catedrais do mundo são catedrais da fé. Ateus ainda não construíram grandes monumentos para cultuar o não Deus deles. Mas eu entendo que “tubo da universalzona” não ia ficar muito bom.

Os tubos, normalmente, permitem embarque só pela porta 3 de todas as 5. Não sei, vai ver é cabalístico, ou alguém perdeu alguma coisa para o Seginho Mallandro. As pessoas que entram dão dois passos e ficam ali, atrapalhando a vida alheia, já que curitibano não pensa nos outros. Nas portas 2 e 4 se faz o desembarque, só que já fora do tubo, em plataformas. Presumir que ninguém vai entrar por essas portas é muita fé no ser humano. Algumas vezes entram os vileiros e o motorista só segue viagem depois que todos saem. Outras vezes não fazem nada, e eles ficam livres para roubar coisas de dentro da sua bolsa (esperava o que de alguém que não pagou a passagem?).

O melhor de tudo é que toda Curitiba se orgulha dos vermelhões. Sempre que alguém de outra cidade está numa roda de conversa, alguém fala dos biarticulados. Por que é um sistema que te obriga a ser cidadão, odiar quem não consegue pagar passagem e a querer bater em quem ouve música alta. Praticamente, o biarticulado te torna curitibano.

muito além da sinceridade

17 de maio de 2010

Eu tenho um problema sério: sou muito sincera. Você pode pensar “ah, legal, adoro gente sincera”. Você está mentindo, a coisa que você mais quer é que digam que você emagreceu, que seu cabelo está bom e que rosa com vermelho não é tão ruim assim. A sinceridade é uma merda para mim e, na maior parte dos casos, eu só me ferrei.

No primeiro período da faculdade, dentre todas as pessoas estranhas que estavam na minha sala (só as mais menos estranhas se formaram), tinha um menino hiperativo. Não como a doença, mas como se tivesse cheirado pó o dia inteiro e depois fosse para a faculdade. Uma vez, saindo do banheiro, o piá começou a falar, gesticular e pular na minha frente. O que eu fiz? Perguntei se ele cheirava muito. Assim, como se eu perguntasse se ele sarou de uma gripe. Pois é, ele ameaçou me bater, disse que é era contra, e falou e gesticulou ainda mais para falar que era geração saúde.

No segundo período do curso, nós tínhamos uma professora muito nova e bastante querida, a Prof. Helena. As piadas eram inevitáveis, mas só entre meus amigos mais próximos (não se espantem, mas na minha sala tinha gente que nunca viu Chaves, Carrossel ou leu turma da Mônica). Voltando ao assunto, a Prof. Helena tinha o cabelo cacheado. Um dia ela surgiu com o cabelo liso, e todo mundo comentou. Ela disse “ah, fui numa festa sábado, quis mudar um pouco” e eu “mas hoje é terça”.

Até hoje me sinto mal por ter falado aquilo para ela. Na hora, eu não pude fazer nada, abaixei a minha cabeça e fui sentar. Não tinha como arrumar aquela cagada, só ia piorar com qualquer coisa que eu dissesse.

Quando eu faço entrevistas de emprego, sempre me perguntam meu pior defeito. Eu sempre digo “sinceridade”. O pior não é isso, o pior é a pergunta que segue “diga um momento que a sinceridade atrapalhou seu relacionamento com as pessoas”. Eu vou dizer o que? Que falei para um professor que a guria da pós não sabe aplicar teoria porque estudou na unibrasil? Que inventei música prqa um piá que fedia no Ensino Médio (ok, um pouco de maldade da minha parte)? Ninguém gosta de pessoas muito sinceras, nem o Gandhi, que falou que a verdade nunca deve ultrapassar a não violência. E, para o Gandhi não gostar disso, alguém deve ter comentado sobre a fralda que ele usava.

Vai doer?!

5 de maio de 2010

Eu tenho medo de injeção. Podem rir, me zoar ou me chamar de fresca, mas eu dou um show tão grande quando tentam me dar injeção que a Lady Gaga já pediu para eu me tornar a coreógrafa dela (não deu certo, ela queria uma coreografia com mil agulhas espetadas no corpo).
É engraçado como as pessoas tentam me confortar quando eu tenho que tomar alguma vacina/remédio. Coisas como “é só uma picadinha”, “você nem vai sentir” não surtem efeito em mim. Eu sinto, não é só uma picadinha e fica dolorido por dias. Não é nada insuportável, mas com 21 anos eu já sei que vocês estão mentindo. E não adianta chamar o Zé Gotinha pra me distrair, eu não deixo darem injeção de jeito nenhum.
Obs: não chamam o Zé Gotinha pra mim desde que eu tinha cinco anos, ok?
Meu único medo maior do que o de injeção é o medo de morrer. Como uma boa (boa?) agnóstica, eu sei lá se tem vida após a vida, então prefiro não me arriscar: se não tiver, vou prolongar essa daqui por mais tempo o possível. Se tiver, eu quero chegar lá com um bom currículo de vida. É por isso que eu tomo as agulhadas necessárias (não sem luta): eu me sentiria muito idiota se morresse por não ter tomado a vacina contra alguma coisa que poderia ser evitada, como o sarampo.
Pena que as teorias da conspiração estão erradas, e as vacinas não nos tornam estéreis. Imaginem o dinheiro que não íamos economizar com pílulas, injeções (credo) e camisinhas, tudo porque nos deram uma vacina no momento certo. Conheci gurias que com vinte anos tinham três filhos, cada um de pai diferente (e viva a pensão alimentícia); imagina se elas tivessem tomado a vacina contraceptiva. Poderiam até ser técnicas de enfermagem de postinhos hoje em dia.
Enquanto ninguém me garante que eu vou para um lugar melhor depois de morrer, ou não lançam uma injeção sem agulha, eu sigo chorando e tirando meu (braço) da reta. Vai que eu descubro que a Lady Gaga também tem medo disso.

#Polemizando

23 de abril de 2010

Algum executivo do Google, de saco cheio, resolveu divulgar os dados de quais países pedem a retirada de conteúdo, e a quantidade dessas retiradas. E nós, Brasil, lideramos o ranking da frente dos outros BRIC – legal, ganhamos deles em alguma coisa.
Nós adoramos exagerar. 99% dos brasileiros sofrem da síndrome de Scarlett O’hara quando se trata de nós mesmos. Sim, porque nós adoramos zoar os argentinos, portugueses, árabes, judeus, americanos. Mas quando a barra pesa para o nosso lado, ou quando é Copa do Mundo, não pensamos duas vezes em defender o Brasil. Somos a favor da escolha do Rio como sede da Copa. Rio de Janeiro: uma cidade sem tráfico, prostituição ou desvio de verbas. Mas se fosse escolhido Chicago, a cidade da máfia, das ruas congestionadas por prostitutas, da jogatina, que só vai pra frente por que é movida pelo suor do imigrante latino (leia em tom de atriz mexicana revelando que deu uma das filhas gêmeas para um maneta esquizofrênico, para se livrar do chefe que queria cozinhar a criança junto com a sopa), seria digno fazer piada.
Brasileiros, em geral, se ofendem fácil. Nós nos ofendemos quando somos marginalizados, quando agridem a integridade das nossas mães no trânsito (como se elas tivessem dirigindo em vez da gente), e quando fazem algum comentário sarcástico no twitter. O twitter, nos seus 140 caracteres, tem provado que as palavras machucam, e não só quando levamos um livro na cabeça. Junto do orkut, o lugar com mais coitados que o Clube dos Cornos, é onde tudo o que você falar vira uma discussão de relacionamento. É como casamento: muita reclamação e nenhum sexo, quando se deveria estar ali só pela diversão.
Acho interessante como isso não se reflete a outros campos das nossas vidas. O governo está uma merda desde a redemocratização e ninguém liga. Quando tem algum escândalo assinamos e-mails e repassamos, como se isso fosse um exemplo de civilidade. Ninguém usa o humor para alfinetar quem deve. Afinal, ridicularizar uma figura digna como o Sarney, peça fundamental no museu do óleo de peroba, é uma ofensa aos brasileiros. Dizer que a família Magalhães tem um reinado dentro do Brasil é mentira – a Mallu Magalhães nem é tão influente assim.
Ninguém aqui fala o que quer. O nosso sensor não é mais o DOPS. Na verdade, podemos berrar que amamos o comunismo ou o livre mercado, escrever isso nas nossas testas, que nada vai acontecer. Ninguém vai nem brigar, nem apoiar. Mas vá escrever em alguma rede social que você não está nem aí para o BBB. Já li que quem ignora isso é contra a diversidade, como se explorar estereótipos fosse uma boa forma de mostrar a riqueza dos brasileiros.
Quando falam que o Brasil é o país do futuro, eu discordo. Nós somos o país do passado, nós ainda vivemos trancafiados embaixo da Estação Pinacoteca, mas agora a inquisição está a um clique do nosso alcance.

Programação madrugueira

15 de abril de 2010

Há muito tempo o Corujão deixou de ser o único programa da madrugada. Eu lembro que chegava certa hora e o SBT, a CNT e a Manchete não tinham mais o que passar, e ficavam apenas mostrando seus logotipos e um relógio embaixo. Atualmente, você pode fazer qualquer coisa na televisão aberta da madrugada.
A Globo ainda exibe filmes que ela não se orgulha tanto de ter adquirido. Apesar de nunca terem passado “Amor, estranho amor”, é divertido ver ao que se prestaram os atores no começo de carreira. É interessante como as pessoas conseguem fazer alguém produzir um longa metragem sobre um menino que se apaixonou por uma dançarina de macarena que vê todas as pessoas dançando isso na rua, um manequim de vitrine que vira uma mulher, uma moça que muda de corpo com um ladrão. Os atores foram pagos para fazer aquilo, ok, mas e as produtoras, que gastaram dinheiro achando que pterodátilos atacando cidades seria um filme que renderia muito dinheiro? Tenho certeza que muita gente faliu apostando em roteiros diferenciados.
Outra coisa são os programas religiosos. A concorrência entre as igrejas é tanta, que às vezes existem cinco canais passando cultos. E tem dias que passa o mesmo culto em dois canais diferentes. Não sei se é tanta audiência que eles preferem dividir os fiéis em dois canais, ou se querem forçar você a assistir algum.
Tem uma pastora, em especial, que me dá muito medo. Ela grita, reclama, ameaça o telespectador, tudo pelo bem das nossas almas. Quando ela atende telefonemas (o que, pelo jeito, faz parte das atribuições profissionais dos pastores da televisão), ela olha para a pessoa com olhar ameaçador, grita e manda a pessoa orar. Eu desistiria de fawzer qualquer pecado na hora. Imagino eu chegando no além, e ela diz para mim:
-Eu falei para você parar de pensar em se matar, em nome de Jesus!
Juro, se aquela mulher tentasse me vender qualquer coisa, eu compraria na hora, com medo daquela mulher bater com a Bíblia na minha cabeça.
Além dos clássicos, como telecurso 2.000, que deveria fornecer ensino a quem não pode ir à escola, mas na prática é um remédio reconhecido pela associação brasileira de medicina do sono como um indutor, os filmes “sensuais” da Band, e as já tradicionais pegadinhas picantes do SBT – que mostram mais peitos e bundas que o cine prive, tem as vendas de produtos.
Eu acho tão bonito as pessoas espremerem frutas naqueles juicers: é tudo tão vermelho, tão laranja, tão verde, tão marrom – afinal, eles fazem suco de mandioca, de abacaxi com casca, de tronco de nogueira e de animais vivos. Ok, menti: de animais mortos. E tem também aqueles aparelhos de ginástica que ninguém nunca vai usar, e que ficam mais gays a cada ano. Fiquem acordados até um pouco mais tarde hoje e vejam o aparelho de jump que deixa todo mundo rebolando. Eu já vi aquilo por dez minutos, rolando de dar risada.
Na verdade, eu nunca comprei nada pela televisão. Nem canetas que furam latas, aparelhos para eu me sentir caminhando no céu, anéis por um preço imperdível ou revoluções para a minha cozinha. A empolgação dos vendedores, desde o moço que grita lavando carros até o que conversa com o boneco, nenhum me passou confiança. Ainda bem que esses canais ainda não contrataram a pastora para vender nada.

Trânsito e Freud

7 de abril de 2010

Eu tenho ficado com medo de dirigir. Acho que Freud tava certo, carro é um prolongamento do pênis para os homens. Deve ser por isso que eles se enfiam em qualquer vãozinho no trânsito, quando está aparente que o carro deles não vai caber.
Uma vez, indo para a faculdade com um amigo, um cara começou a ficar grudado na minha traseira (e a 5ª série diz: huuuummmm) e dando luz alta em uma pista de via simples, que estava bem lenta. Eu não dei muita atenção. Em um retorno, o cara entrou na frente do meu carro, parou e ia sair. Eu tive que passar pela calçada para não parar e ouvir o tiozinho gritando comigo. Uns 50 metros pra frente, quando o trânsito parou de vez, ele desceu, foi na janela do carona, onde meu amigo estava sentado, e perguntou se eu não tinha visto o carro dele. Para Freud, é como se eu tivesse ignorado o órgão genital do senhor.
As pessoas ficam loucas no trânsito. Um cara desce do carro para perguntar se eu não o vi e volta para o carro, nem para eu responder “vi sim. Obrigada pela sua preocupação”. Será que ele estava correndo pra casa para ir ao banheiro depois de tomar um purgante?
Há um tempo atrás abriu uma loja de som de carro do lado da minha casa. O que Freud diria sobre som de carro, será? Seria um pênis musical? Na verdade é quase como um estupro auditivo: eu não quero ouvir isso, não gosto dessas músicas e não gosto de aumentar o som das minhas coisas.
Outra coisa que eu odeio é quem buzina com o trânsito parado. A buzina não possui um poder mágico de abrir caminhos. As pessoas que estão paradas na sua frente também não estão gostando de ver aqueles prolongamentos reunidos. Pense em outra coisa, ligue para sua mãe (Freud entenderia), mas não prense a sua mão na buzina. Isso só me faz querer virar pra trás e dizer “já ouvi, valeu”.
Não xingue a mãe alheia no trânsito. É uma alternativa freudiana plausível, mas melhor ainda é ofender o órgão sexual alheio. Mas cuidado, porque você pode acabar com o seu órgão riscado.