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Programação madrugueira

15 de abril de 2010

Há muito tempo o Corujão deixou de ser o único programa da madrugada. Eu lembro que chegava certa hora e o SBT, a CNT e a Manchete não tinham mais o que passar, e ficavam apenas mostrando seus logotipos e um relógio embaixo. Atualmente, você pode fazer qualquer coisa na televisão aberta da madrugada.
A Globo ainda exibe filmes que ela não se orgulha tanto de ter adquirido. Apesar de nunca terem passado “Amor, estranho amor”, é divertido ver ao que se prestaram os atores no começo de carreira. É interessante como as pessoas conseguem fazer alguém produzir um longa metragem sobre um menino que se apaixonou por uma dançarina de macarena que vê todas as pessoas dançando isso na rua, um manequim de vitrine que vira uma mulher, uma moça que muda de corpo com um ladrão. Os atores foram pagos para fazer aquilo, ok, mas e as produtoras, que gastaram dinheiro achando que pterodátilos atacando cidades seria um filme que renderia muito dinheiro? Tenho certeza que muita gente faliu apostando em roteiros diferenciados.
Outra coisa são os programas religiosos. A concorrência entre as igrejas é tanta, que às vezes existem cinco canais passando cultos. E tem dias que passa o mesmo culto em dois canais diferentes. Não sei se é tanta audiência que eles preferem dividir os fiéis em dois canais, ou se querem forçar você a assistir algum.
Tem uma pastora, em especial, que me dá muito medo. Ela grita, reclama, ameaça o telespectador, tudo pelo bem das nossas almas. Quando ela atende telefonemas (o que, pelo jeito, faz parte das atribuições profissionais dos pastores da televisão), ela olha para a pessoa com olhar ameaçador, grita e manda a pessoa orar. Eu desistiria de fawzer qualquer pecado na hora. Imagino eu chegando no além, e ela diz para mim:
-Eu falei para você parar de pensar em se matar, em nome de Jesus!
Juro, se aquela mulher tentasse me vender qualquer coisa, eu compraria na hora, com medo daquela mulher bater com a Bíblia na minha cabeça.
Além dos clássicos, como telecurso 2.000, que deveria fornecer ensino a quem não pode ir à escola, mas na prática é um remédio reconhecido pela associação brasileira de medicina do sono como um indutor, os filmes “sensuais” da Band, e as já tradicionais pegadinhas picantes do SBT – que mostram mais peitos e bundas que o cine prive, tem as vendas de produtos.
Eu acho tão bonito as pessoas espremerem frutas naqueles juicers: é tudo tão vermelho, tão laranja, tão verde, tão marrom – afinal, eles fazem suco de mandioca, de abacaxi com casca, de tronco de nogueira e de animais vivos. Ok, menti: de animais mortos. E tem também aqueles aparelhos de ginástica que ninguém nunca vai usar, e que ficam mais gays a cada ano. Fiquem acordados até um pouco mais tarde hoje e vejam o aparelho de jump que deixa todo mundo rebolando. Eu já vi aquilo por dez minutos, rolando de dar risada.
Na verdade, eu nunca comprei nada pela televisão. Nem canetas que furam latas, aparelhos para eu me sentir caminhando no céu, anéis por um preço imperdível ou revoluções para a minha cozinha. A empolgação dos vendedores, desde o moço que grita lavando carros até o que conversa com o boneco, nenhum me passou confiança. Ainda bem que esses canais ainda não contrataram a pastora para vender nada.